Apesar de ser incipiente, a inserção da Fisioterapia na Saúde Pública está em ascensão. Percebe-se uma valorização desta atuação e um sentimento de que sua importância aos poucos é reconhecida. São vários os exemplos em que o fisioterapeuta insere-se na agenda da saúde pública. Ora por necessidade da população, ora pela luta da classe em demonstrar sua utilidade, a Fisioterapia vem ao encontro da saúde pública, com seu potencial não só curativo-reabilitador, como também na prevenção, e por que não na promoção da saúde, em ações individualizadas ou coletivas, como pode ser observado pelos relatos no jornal de seu Conselho Federal. Seguem algumas experiências. A Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia apurou que o fisioterapeuta deveria estar presente nos quadros da Secretaria, tanto no atendimento à família como na prevenção, além da fase curativa. A prevenção é realizada em grupos, o fisioterapeuta realiza orientações quanto à postura, preparo para o parto em gestantes, participando também de programas de hanseníase, prevenção de incapacidade, grupos de lombalgia e hipertensão (COFFITO, 1999). Em Santarém (AM) o fisioterapeuta está presente na Secretaria Municipal de Saúde de forma incipiente, atuando em nível hospitalar, e quando há necessidade de alguma equipe do PSF (Programa de Saúde da Família), o fisioterapeuta trabalha junto à equipe. Na zona rural alguns pacientes que antes necessitavam ser encaminhados à capital, passaram a ser atendidos em suas comunidades (COFFITO, 2000a). Em Camaragibe (PE) o fisioterapeuta está inserido em duas equipes do PSF, nas regiões mais populosas, e no Núcleo de Reabilitação. A jornada do fisioterapeuta é dividida entre ambulatório e visitas domiciliares. Além do atendimento individual, atua-se em grupos coletivos de prevenção nas Unidades de Saúde da Família (COFFITO, 2001a, b). A Universidade Federal da Paraíba e a Faculdade de Fisioterapia de Caratinga desenvolvem estágios rurais para seus acadêmicos, inserindo-os na Saúde Pública. Ambos os programas utilizam a metodologia do PSF (COFFITO, 2001c). No Rio de Janeiro, fisioterapeutas do Instituto Fernandes Figueira (IFF), ligado à Fiocruz, participam do Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI). O programa segue uma orientação multiprofissional, realizando visitas à comunidades dos subúrbios da cidade ou da baixada fluminense. O modelo de atendimento é voltado à criança, buscando-se o envolvimento do profissional com a família-paciente (COFFITO, 2001d). Audiência Pública em Goiânia no dia 31 de outubro de 2000, ratificou a importância da atuação do fisioterapeuta como profissional essencial na saúde pública, habilitados no diagnóstico de distúrbios cinético-funcionais, na prescrição das condutas fisioterapêuticas, na sua ordenação e indução na clientela até a alta do serviço, devendo também estar presente em programas preventivos e nas pesquisas científicas voltadas para a promoção da saúde do indivíduo e da comunidade (COFFITO, 2001e).Em Natal (RN), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Universidade Potiguar desenvolveram um programa preventivo com um grupo de pacientes diabéticos, mediante condutas voltadas a atividade aeróbica (COFFITO,2001f). Em Paracambi (RJ), o fisioterapeuta foi inserido no PSF devido à insistência de uma fisioterapeuta que conseguiu demonstrar às autoridades e à população a importância da inclusão deste profissional no PSF, uma vez que era grande a prevalência de pessoas com seqüelas neurológicas, na maior parte,restritos ao leito, sem acesso aos serviços de saúde (COFFITO, 2002a).Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em Cascavel (PR) disponibilizou na Residência em Saúde da Família, vagas para fisioterapeutas(COFFITO, 2002b).Sobral (CE) possuía fisioterapeutas em hospitais e clínicas conveniadas com o SUS, e uma profissional que realizava atendimentos domiciliares quando solicitada pelas equipes de PSF até 2000, quando este profissional foi incluído no PSF. O fisioterapeuta realiza a Escola de Posturas (prevenção e tratamento das algias da coluna), atua em grupos de gestantes, hipertensos, diabéticos e de hanseníase, além de atendimentos a pacientes com necessidades especiais, como portadores de seqüelas de AVE, TCE, TRM, amputados, dentre outros distúrbios neurológicos. A Escola de Saúde da Família Visconde de Sabóia por meio de sua especialização também agrega fisioterapeutas, numa formação voltada à atenção básica (COFFITO, 2003a).Em dezembro de 2000 a presença do fisioterapeuta no PSF foi efetivada em Campos dos Goytacazes (RJ), realizando atendimentos principalmente a indivíduos portadores de distúrbios neurológicos, seguidos pelos traumatoortopédicos funcionais. Contava-se em 2003 com oito fisioterapeutas, onde era realizado trabalho preventivo e em consultório (COFFITO, 2003b). A inserção do fisioterapeuta no PSF, em Macaé (MG) teve inicio em 2001, onde desenvolve atividades de educação junto à comunidade e atendimentos nas áreas de Saúde da Criança, da Mulher, do Adulto e do Idoso, além de atendimento a pacientes acamados. Utiliza-se a própria unidade ou locais cedidos pela comunidade, e os atendimentos são realizados individualmente ou em grupos (COFFITO, 2003c).Em entrevista ao COFFITO em junho de 2003, Luiz Odorico Monteiro de Andrade, então presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) ao falar da interdisciplinaridade no PSF, defendeu a importância do fisioterapeuta no PSF. Refletiu que essa atuação deveria incluir a Fisioterapia comunitária, com uma abordagem mais integral, de promoção de saúde, trabalhando com a qualidade de vida das pessoas e no internamento domiciliar em situações especiais (ANDRADE, 2003).No 7º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva em Brasília, 2003, ocorreu uma oficina temática com o tema: “Fisioterapeutas e Saúde Coletiva: enfrentando o desafio da integralidade da atenção”, nos dias 29 e 30 de julho. A experiência congregou profissionais fisioterapeutas comprometidos com uma oferta de atenção primária como estratégia para substituir o modelo tradicional de cuidado à saúde (PEREIRA, 2003). Em 2004, no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, realizado pela Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) em Recife, outra oficina temática deu continuidade às discussões do ano anterior, com o tema: “Fisioterapia e a Cidade: em busca do olhar epidemiológico”. (COFFITO, 2004a). A crescente participação da categoria em tais eventos da Saúde Coletiva demonstra o aumento de interesse por esta área. Em Balneário Camboriú – SC, a rede pública oferece atendimento de Fisioterapia no Núcleo de Atenção ao Idoso e no Centro de Fisioterapia e Reabilitação. Além do atendimento ambulatorial, os profissionais realizam visitas a pacientes triados pelo PSF, atividades voltadas à prevenção num programa denominado “Agito no Bairro” e com orientações sobre atividades físicas e caminhadas durante o verão (COFFITO, 2004b). Barros (2002a) traz uma coletânea de vinte experiências da Fisioterapia Comunitária, reunidas pela ocasião do prêmio Fisiobrasil Edição 2001. Os trabalhos apresentados nesta obra demonstram, em todo o Brasil, a necessidade e a capacidade da Fisioterapia preocupar-se também com as questões de saúde da população, inserindo-se em todos os níveis de atenção. Tonin (2004) realizou uma revisão de literatura sobre a Fisioterapia na Estratégia de Saúde da Família. A autora concluiu que o profissional fisioterapeuta está habilitado a atuar na atenção básica, e que várias conquistas neste âmbito já foram alcançadas. Também discutiu a possibilidade de uma negação da Integralidade e Universalização na atenção básica com a ausência desta categoria profissional.
É perceptível uma tendência à mudança no sentido da integralidade, porém ainda subsiste uma supervalorização da doença, em detrimento da saúde em seu conceito ampliado, como observado no discurso de Yvane Elizabeth Figueira ao COFFITO (2002b). Percebe-se a necessidade de uma atuação mais abrangente por parte do fisioterapeuta, sem, contudo, ultrapassar seu núcleo específico de saber.É muito difícil encontrar um fisioterapeuta que, em lugar da clínica,pense em ser um educador (...). O fisioterapeuta deve estar ciente que não estará infringindo nenhuma questão legal do exercício da profissão, mas atuando e ajudando a comunidade, sem negligenciar as questões básicas. Temos que nos sentir como integrante da equipe de saúde. O fisioterapeuta precisa entender que vai promover a atenção específica de sua área, mas ao redor estão inseridas outras questões, como doenças endêmicas, por exemplo, tem que conhecer o perfil epidemiológico se deseja agir como agente formador de idéias e ações, enfim como educador e planejador (COFFITO, 2000b). Campos (2000) assim diferencia núcleo e campo de saberes e práticas: núcleo seria uma aglutinação de conhecimentos e conformação de um determinado padrão concreto, demarcaria a identidade profissional, já campo, seria um espaço de limites imprecisos onde cada disciplina e profissão buscaria em outras, apoio para cumprir suas tarefas teóricas e práticas. Essa necessidade em se discutir mais a inserção do fisioterapeuta nos espaços da saúde coletiva evidenciou-se também no VII Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva realizado em Brasília no ano de 2003. Na ocasião realizou-se uma oficina de trabalho, cujo relatório aponta para a crescente importância deste campo de atuação (ABRASCO, 2003). Uma rápida pesquisa nos anais do mesmo congresso, utilizando como descritores Fisioterapia e fisioterapeuta, apresentou um total de cento e onze trabalhos apresentados, corroborando a participação da categoria (CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 2003) Barros (2002b) aborda a necessidade de uma responsabilidade social na Fisioterapia.
Fonte: Gallo,D.L.L.A.fisioterapia no programa saúde da família:Percepções em relação à atuação profissional e formação universitária.Tese de Mestrado. Londrina.2005.
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